sexta-feira, 1 de maio de 2015

Relatório final da circulação sul da desCompanhia de dança

De outubro a dezembro de 2014, a desCompanhia de Dança, através do Prêmio FUNARTE Klauss Vianna 2013,  circulou pela Região Sul  com o projeto: Sobre Sujeitos, Objetos e Afetos – Circulação Sul. Além da apresentação do espetáculo homônimo,  em cada cidade visitada o grupo propôs uma mesa sobre meios de sustentabilidade na dança, intitulada: Conversa Sobre Dança: Configurações possíveis.

Nos últimos meses de 2014, a desCompanhia passou por Curitiba, Londrina, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre e Caxias do Sul. Para as mesas de debate, nas capitais, o grupo contava com três articuladores que representavam os estados da Região Sul: de Porto Alegre, Airton Tomazzoni; de Curitiba, Cintia Napoli e de Santa Catarina, Elke Siedler. O debate, realizado em todas as cidades, contou com convidados locais, de diversas modalidades de dança, que juntos pensaram a produção e  meios de existência em dança em seus estados.

A partir dos encontros com artistas do sul do Brasil, a desCompanhia fez um recorte das coincidências e dissidências das cidades sulistas e suas danças, mapeando a produção e os modos de se relacionar com sustentabilidade e arte. E é sobre esse ponto de vista que chegamos à algumas conclusões, apontamentos:

Em Curitiba, cidade natal do grupo,  existem muitos artistas independentes. Esse contexto é sublimado pelo fato de existir formação em dança na cidade. Formais ou informais, estas formações  sustentam , promovem e caracterizam a produção da cidade. Do mesmo modo, a maioria dos artistas da dança na cidade vivem de financiamentos públicos. Outra questão bastante levantada na cidade, pelos convidados, espectadores e a desCompanhia, é que os artistas precisam se misturar mais,  mistura de modalidades, pensamentos e estratégias; para que, juntos, possam construir uma rede que sustente individual e coletivamente cada artista da cidade.

A segunda cidade que o projeto chegou  foi Londrina.  Na cidade, observou-se que a dança gira em dois pólos: universidade (apesar de não contar com um curso específico de dança, a UEL com o departamento de Teatro, olha e produz dança) e  iniciativas públicas promovidas pela Funcart. Uma característica importante observada é que a cidade conta com políticas fortes e autênticas de financiamento público.

Caxias do Sul é uma cidade bastante articulada. Na cidade, uma alternativa recorrente de viabilidade da produção em dança, é

o trânsito entre diversos campos  de atuação. Esse trânsito   suporta o sustento de artistas/grupo. Academia, pesquisa, palco e docência, são possibilidades de criação que além de expandir o horizonte de um artista/grupo, possibilita que ele possa sobreviver da dança. Pode-se perceber diferentes campos de atuação na cidade: companhias municipais, artistas independents, grupos privados e um suporte público municipal bastante direcionado à prática de dança.

Porto Alegre foi a cidade que mais mostrou diversidade. No encontro, haviam profissionais da dança veteranos trocando com iniciantes, apontamentos para a sustentabilidade que extrapolam financiamentos públicos. Os artistas tem descoberto outras formas de financiar sua vida/arte: crowdfunding, venda direta de espetáculo, economia criativa; meios que, através da relação e da rede de contatos, possibilitam a criação de espaços para a dança e sua continuidade.

A necessidade dos artistas pensarem seus meios de produção  a médio e longo prazo e a certeza que a demanda de grupos e de suas criações não serão abarcadas globalmente pelo poder público, chama novas descobertas, formatos, possibilidades..

Em Joinville, pela fala dos convidados, pode-se perceber que O Festival e a Escola do Bolshoi se tornam sinônimo e modelo de dança na cidade, vale ressaltar que: por outro lado, essas duas inciativas despoletaram a profissionalização da dança em Joinville. Como o Festival de Joinville tem como premissa a competição, a cidade, no geral, vive a dança sobre essa perspectiva, o que confere também uma falta de continuidade no trabalho: dança-se para o Festival. Passar o ano todo preparando uma coreografia, reduz a estatística de montagens de espetáculos de dança e dá um formato específico para a produção local: competição (Festival de Dança), danças regionais e o Bolshoi formam um mosaico/modelo onde a pesquisa em dança, ou a criação de trabalhos autorais, têm dificuldades reais de penetração.

A última cidade que o projeto passou foi Florianópolis. A capital não tem uma formação formal em dança e os festivais competitivos tem muita força dentro da cidade. Esse contexto desenha e carrega algumas questões definitivas: continuidade, manutenção, pensamento e audiência para fruir dança. A falta de financiamentos públicos  da cidade, muitas vezes,  acarreta numa evasão de profissionais para outras cidades do Brasil ou do mundo, o que complexifica ainda mais as relações de mudança de contexto dentro da cidade, já que o movimento de transformação surge de da insistência. Por outro lado, os profissonais que permanecem na cidade, se relacionam muito entre si e isso fortalece e cria uma rede, que fortalece a produção em dança da capital.

Alguns fatos foram recorrentes em todas as cidades que o projeto passou: muitos profissionais, além da cena, vivem sobretudo de dar aulas de dança, embora nem sempre a docência seja a primeira opção. Os artistas da dança procuram novas opções de sobrevivência que não sejam somente sustentadas pelos poder público. E a criação de novas possibilidades é urgente: começando por uma criação de rede entre os profissionais, por mais encontros e mais articulação entre os artistas. A mistura entre modalidades e pensamentos unifica uma rede e promove ajuntamentos que possibilitam criação de novas alternativas. A falta de espaços para ensaio e apresentações também é uma reclamação recorrente e que diminui a produção de dança no sul. A continuidade de gestão e agrupamentos artísticos é outra alternativa de resistência e possibilidades de articulação dentro do contexto da dança no sul. E…finalmente, os encontros: eles são absolutamente necessaries para que se crie um panorama que problematize e discuta meios de produção.

A desCompanhia de dança conclui o projeto cheia de novas ideias e com mais desejo de articulação entre os artistas do sul, que estão muito próximos no mapa e começam a estar próximos, a partir dos encontros articulados, na relação. A palavra que insiste é continuidade e resistência; para se dançar mais, articular mais e exisitir.

desCompanhia